Apesar da multifuncional gestão que comporta amplos universos, em diversos momentos essas mulheres se encontram em cenários de solidão, preconceito e em busca de respostas, que não vêm de quem recebe seus cuidados. Uma pesquisa realizada pela 99jobs em 2023 revelou que 60% das mulheres que estavam em cargos de liderança se sentiam solitárias.
Dados do estudo “Mulheres Negras Rumo a Liderança”, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, apontam que apesar de representarem 56,1% da população do país, os negros ocupam apenas 4,7% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do Brasil. Sob o recorte de mulheres pretas, o número é ainda menor, com 0,4% das posições comandadas por elas.
De acordo com a Consultora em ESG, Diversidade e Inclusão, Rosana Fernandes, a saúde mental é um dos aspectos mais prejudicados nesta saga, que busca atender tudo o que mexe com o imaginário das mulheres, mas que pode interferir diretamente no desempenho profissional e no desenvolvimento da carreira.
“Como mulher preta, ocupando posições de liderança e trabalhando junto a grandes empresas na implementação de projetos de desenvolvimento de talentos e ESG, percebo o quão ainda há muito a evoluir tanto em políticas de desenvolvimento de talentos negros, quanto no acolhimento de questões de saúde física e mental que permitam o desenvolvimento efetivo de mulheres negras em mais posições de liderança. Além de tudo o que já faz parte da rotina de uma mulher, a invisibilidade e imposições de barreiras para mulheres negras no mundo corporativo adicionam ainda mais camadas de complexidade em torno do desenvolvimento de mulheres pretas. Além de ser necessário alta qualificação técnica, pressões estéticas e comportamentais, além do sexismo e machismo seguem restringindo oportunidades para seu crescimento. Empresas e lideranças, além da boa vontade, precisam de passos mais concretos que realmente rompam com a hierarquia de privilégios. Uma pesquisa recente da LUPA, a qual tive acesso, revelou que apesar de 53% dos entrevistados revelarem que existem ações para promover a inclusão e a diversidade nas empresas onde atuam, 62% das pessoas não encontram ambientes seguros e acolhedores para grupos minorizados. Pelo menos 30% do público já desenvolveu doenças mentais como a depressão por conta do trabalho. Por isso é tão urgente quando falamos da necessidade de políticas internas para o bem-estar e da relevância que tem de oportunizar essas pessoas, com alto potencial para o crescimento”, aponta Rosana.
No mês voltado à Consciência Negra, a especialista que representou o Brasil na Delegação Brasileira no Fórum Permanente de Afrodescendentes na ONU, em 2023, traz alguns apontamentos para ajudar a repensar ações afirmativas e projetos com viés ESG. “É fundamental usar o mês de novembro para além do letramento, as organizações e líderes precisam se desafiar a criar ações contínuas e consistentes, que durem o ano todo, além de criarem movimentos de transformação cultural, para que todos incorporem o que gosto de chamar de ‘DNA diverso’, uma forma diferente de entender, enxergar e construir ações equitativas coletivamente, pois somente assim será possível provocar acolhimento, incentivar a confiança de outras profissionais negras, além de ampliar os lugares ocupados merecidos por essas mulheres”, acrescenta Rosana.
Traçando um paralelo com o tema trabalhado recentemente na redação do ENEM, o Exame Nacional do Ensino Médio, a especialista cita a comentada “Geração Sanduíche”, onde as jornadas de trabalho, cuidar dos filhos e dos pais, muitas das vezes idosos, se tornam a obrigação das mulheres, submetidas a uma vida exaustiva que não permite chegar ao próprio cuidado.
“A gente fala de ações nas empresas, mas também precisamos olhar para as condições que nós enquanto sociedade estamos proporcionando a essas mulheres, que precisam de mais empatia, um olhar Inclusivo e atento, disposto a conceder flexibilidade, tempo e oportunidades compatíveis às suas realidades. É importante pensar em caminhos como formação, desenvolvimento, mentorias, políticas públicas, planejamento de carreira, estratégias de fomento entre outras frentes, compreendendo a realidade de mulheres negras membros da geração sanduíche. Precisamos valorizar os talentos femininos negros e mobilizar recursos para aprimorar habilidades, criar chances de crescimento e explorar o melhor de cada desafio que surgir no caminho destas profissionais. Ao final de tudo as mulheres negras só desejam dar passos planejados e chegar onde precisamos e merecemos, tendo reconhecidas as nossas competências”, finaliza a fundadora da Fênix Treinamentos.








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