O mês de janeiro é mais um dos importantes marcos na agenda de valorização da diversidade. Em 29 de janeiro, celebramos o Dia Nacional da Visibilidade Trans, que foi oficialmente instituído em 2004, após ativistas transgêneros, em parceria com o Ministério da Saúde, lançarem a campanha “Travesti e Respeito”, cujo foco era a promoção do cuidado com Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Podemos dizer que 20 anos após a criação da data, pouco avançamos em termos de visibilidade de pessoas trans no Brasil, país que segue no topo da lista como um dos que mais matam essa população em todo o mundo. Segundo o relatório da Transgender Europe (TGEU) de 2021, 33% de pessoas transgêneras (travestis, transexuais) ocorreu no Brasil, totalizando, entre janeiro de 2008 e setembro de 2021, pelo menos 4.042 assassinatos.
No que se refere ao acesso ao mercado de trabalho e oportunidades de ter uma vida digna, a população trans segue à margem da sociedade. Dois estudos realizados pela Gestão Kairós comprovam que a participação de profissionais trans nas empresas não chegam a 1%. Os dados fazem parte do estudo Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, que contou com mais de 26 mil respondentes, entre 2019 e 2021, e investigou a representatividade das pessoas transgêneras (travestis e transexuais) no Quadro Funcional e na Liderança (Gerente e acima) de diversos setores empresariais, constatando que, tanto no quadro funcional como na liderança, os percentuais não chegavam a 1%.
“Em nossa pesquisa, identificamos que a presença de profissionais trans na liderança é de 0,7%, e no quadro funcional, a ausência é quase total, com 0,4%. Com isso, percebemos que 99% dos profissionais se autodeclaram cisgêneros, evidenciando a cisgeneridade como norma e regra compulsória dentro das grandes empresas. Não temos como afirmar se as empresas definitivamente não estão contratando pessoas trans, mas o que pode estar ocorrendo é que os profissionais trans não sentem que o ambiente é seguro o suficiente para que possam falar abertamente sobre a sua identidade de gênero”, diz Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós.
Quando analisada a representatividade de orientação sexual e identidade de gênero, 24% dos pesquisados se autodeclaram LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero), número que também está acima de estudos de mercado que mensuram essa parcela da população. “Entretanto, há um fator que precisa ser considerado neste resultado, já que, mesmo sendo temas que falam sobre diferentes aspectos da sexualidade humana, não há separação metodológica nos dados, o que não nos permite saber, por exemplo, o percentual real de pessoas Transgêneras (Travestis e Transexuais) nas agências respondentes”, alerta Liliane Rocha.

Ariel Nobre
Já para Ariel Nobre, diretor executivo do ODP ((Observatório da Diversidade na Propaganda) , 29 de janeiro é importante para potencializar a visibilidade em relação à comunidade trans que segue à margem das iniciativas de inclusão em diversos setores, principalmente o publicitário. “Em termos de avanços, hoje nós temos mais oportunidades de contar nossas histórias e isso é muita coisa. Nossas vozes estão ecoando cada vez mais longe, mas nem sempre somos ouvidos. Cresce o interesse de marcas e agências para fazer campanha SOBRE nós. Por outro lado, ainda não temos autonomia de representação. Essas campanhas são conduzidas por equipes de criação, em sua maioria 100% cisgêneras”, explica o executivo.
Segundo ele, a criação do ODP pode ser considerada como um avanço em termos de representatividade da população trans entre outros grupos de diversidade. “Nosso objetivo é contribuir exatamente para desfazer essa parede entre quem fala e quem é falado. Operamos para que a conversa seja setorial e, com isso, a transformação seja sistêmica. A propaganda só tem a ganhar em criatividade e cultura a partir da inclusão e presença de profissionais trans na liderança”, acredita.
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