Igor Verde: do terreiro no Complexo do Alemão ao mainstream do audiovisual brasileiro

por | julho 28, 2025

Criado no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Igor Verde cresceu entre cantos, histórias e rituais de terreiro. Antes mesmo de pisar em uma sala de aula de cinema, já dominava o essencial: ouvir e contar histórias. Roteirista, diretor, escritor e contador de causos, Igor faz da oralidade e da ancestralidade os pilares de sua criação artística.

Homem preto, forjado em um dos territórios mais simbólicos da resistência carioca, fez do oriki – canto de memória e identidade na tradição iorubá – o eixo central da sua trajetória. Sua caminhada no audiovisual, no entanto, exigiu driblar obstáculos ainda comuns a muitos jovens da quebrada. Em 2009, ingressou na PUC-RJ por meio de uma bolsa do Prouni. No ano seguinte, mergulhou no universo do projeto Pontos de Cultura, idealizado por Gilberto Gil, enquanto estagiava na Rede Globo.

Em 2012, sua voz atravessou fronteiras: Igor foi selecionado para o Berlinale Talents, programa de formação do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Do Alemão para o mundo.

A jornada seguiu com força. Igor atuou como assistente de direção em produções como Cordel Encantado, Avenida Brasil, Subúrbia, Malhação e O Brado Retumbante. Em 2015, assumiu sua primeira direção no Zorra e, na sequência, liderou a série Filhos da Pátria. Também assinou roteiros para programas como Lazinho com Você e o impactante Falas Negras (2021).

Foi justamente em Lazinho com Você que nasceu o Coletivo Cata História, grupo de criadores que compartilham a visão de que a realidade é moldada pelas histórias que escolhemos contar. Dali nasceu Reencarne, série dirigida por Igor e lançada mundialmente no Berlinale Series Market de 2025 — uma das 17 produções escolhidas no mundo todo. A série questiona identidade, morte e pertencimento, dialogando diretamente com estruturas coloniais e a necropolítica.

“Essa é uma série sobre identidade que faz a pergunta mais fundamental: quem sou eu? A identidade é uma ilusão poderosa. E quando alguém tem uma identidade diferente da nossa, em vez de escutar, tentamos invalidá-la”, explica o diretor.

O compromisso de Igor com o tempo em que vive transborda a técnica. Seus projetos provocam, sem entregar respostas fáceis. Para ele, a arte é ferramenta de transformação social. É semente.

No streaming, o currículo não para de crescer: roteirista de Os Quatro da Candelária (Netflix), supervisor de roteiro em O Negociador (Prime Video), criador de Cidade de Deus: A Luta Não Para (Max, 2024) e diretor da série Capoeiras (Disney, estreia em 2025). No cinema, assina roteiros de Ó Paí, Ó 2 (2023), Bicho Monstro (2024) e Continente (2024).

Na literatura, também marca presença: foi finalista do Prêmio Jabuti 2023 com seu primeiro livro, Viralizou.

Mesmo longe das redes sociais, Igor Verde tem deixado sua marca com obras que falam por si — e falam alto. Em um mercado ainda marcado por desigualdades, ele é prova viva de que outras narrativas são possíveis. Narrativas pretas, periféricas, ancestrais. Narrativas que reencarnam o futuro.

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