Indicada ao Prêmio Shell, Marah Silva se destaca na moda

por | março 7, 2024

Com 19 anos de carreira no segmento, a multiprofissional recebe sua primeira indicação a um prêmio no teatro, mantém o trabalho de criação e consultoria em seu ateliê, assina uma nova série e segue realizando workshops pelo país.

Figurinista, empreendedora, consultora, estilista-artista e até professora. Se for listar tudo que Marah Silva faz concomitantemente, o risco é não saber por onde começar a pensar esta mulher multifuncional que, fundamentada no tabuleiro como Baiana de Acarajé, desde muito cedo já herdara a profissão de sua mãe e outras mulheres de sua família. Trabalhando desde os 14 anos, foi observando aquelas vestimentas tradicionais que a baiana de Salvador se apaixonou pela arte das linhas e agulhas e, rapidamente, sentiu a necessidade de criar, parecendo intuir as muitas possibilidades do caminho que se mostrou bem aberto e acolhedor. Atualmente, dentre tantas outras atividades, Marah está indicada pelo Júri de São Paulo ao Prêmio Shell na categoria Figurino pelo seu trabalho na peça “Viva o Povo Brasileiro (de Naê a Dafé)”.

Ao longo dos 30 anos que se estabeleceu no Rio de Janeiro, Marah já desenvolveu figurino para mais de 15 peças teatrais – dentre elas, “Para meu amigo branco”, “JORGE pra sempre VERÃO” e “Capiroto”, recentes sucessos dos palcos. Mas foi agora, aos 51 anos de vida, que recebeu a primeira indicação no teatro, resultado do trabalho que a levou a desenvolver 56 peças de roupa para a adaptação cênica de André Paes Leme para o livro de João Ubaldo Ribeiro. “Ser a única mulher negra indicada nesta categoria já é um prêmio. Eu me vejo muito na inspiração de mulheres negras que vieram antes de mim e abriram as portas, mas me vejo também como inspiração para as mulheres negras que estão vindo aí. Então, pra mim, essa indicação é coletiva. É um abraço que eu dou em nós, mulheres pretas que estamos nessa luta pelo reconhecimento de nossas artes. Tô muito feliz! Pra mim é um Grammy do Teatro Brasileiro”, vibra Marah.

A criação do figurino do espetáculo “Viva o Povo Brasileiro” teve, para Marah, um dos processos mais completos usados em sua metodologia de trabalho.

“Me ver como figurinista colocando ali técnicas que eu desenvolvi foi maravilhoso. Arrisquei! E deu numa indicação, né? Foi um processo coletivo, trabalhei junto aos atores e o diretor. Ia muito aos ensaios e quis que todos participassem do processo de criação de cada personagem. Levar as cores e toda aquela alegria que está dentro do palco foi uma sensação de transformação artística, sabe?”, reflete a figurinista indicada.

Ela integrou a equipe de “Elza Infinita”, filme premiado com a prata na categoria Documentário Biográfico no New York Film Festivals 2022.

Processo de criação “Capiroto” | Foto: Divulgação

E, assim como essa, outras metodologias desenvolvidas por Marah tem sido levadas aos mais diversos espaços através da sua verve de empreendedora. “Atuo em projetos sociais, subo comunidades, vou a cidades pequenas ensinar ao pequeno empreendedor a entender bem o seu produto e se tornar um grande empreendedor, como hoje me vejo. E eu me uso muito de exemplo, tenho muito orgulho da minha história e de tudo que tracei até aqui”, pontua Marah, que deu seus primeiros passos na Incubadora Afro-Brasileira, um projeto social da Petrobras. “Foi lá que construí todo esse alicerce, ela que me colocou nesse eixo de poder administrar toda a minha arte, me ensinando a ser Designer de Moda. Foi lá, inclusive, que eu desenvolvi a apostila ‘Empreender para Existir’”, relembra Marah, que já levou seus conhecimentos a municípios fluminenses como Japeri, Campos Elísios, Gramacho e Duque de Caxias.

A apostila foi bem vista pela Prefeitura de Niterói e atualmente é o corpo do projeto “Mulheres Guerreiras de Niterói”, onde Marah atua em comunidades levando informações empreendedoras: “Aplicamos oficinas de Costura gerando renda e ensinando às mulheres sobre sua própria capacidade, porque o nosso primeiro trabalho é ressignificar pessoas que o sistema já largou. Então, o ‘Empreender para Existir’ é a minha voz dentro de comunidades, levando informações totalmente relevantes a quem, de fato, precisa. E neste ano o meu quadro de trabalho cresceu bastante, já estou sendo chamada pra dar aulas em Minas Gerais, na Bahia, nos interiores, nas comunidades.”

“A minha maior felicidade é essa, ensinar o que eu aprendi. Porque, vindo de família humilde, eu sei o quanto é importante todas essas informações para quem tem um pequeno negócio”, reconhece Marah.

Processo de criação “Laffond” | Foto: Divulgação

Imersa num movimento profissional dinâmico, além dos ensinamentos e aprendizados Marah ainda está à frente do Ateliê Cretismo, um ambiente de artes e ideias instalado no Centro do Rio de Janeiro que possui um café, promove eventos de música ao vivo, como o projeto “Cantando na Janela”, rodas de conversa e, em breve, abrigará um coworking para investir em novos artistas. É ainda o espaço onde Marah gerencia sua equipe, realiza suas criações e recebe suas clientes, que vão de artistas que veste como stylist, como Serjão LorozaDoralyce, Ana Costa, Brenda Marinho e DJ Bieta, a advogadas, médicas e gerentes de banco.

“O Ateliê é, principalmente, um lugar que acolhe o novo artista. A gente faz figurinos pra pessoas que estão começando e abraçamos estas pessoas. Quando a cliente chega no ateliê, eu não a levo diretamente para a loja. Primeiro sirvo um café e converso, aplico um questionário que desenvolvi e, através dele, tenho uma noção dos estilos que a pessoa gosta de usar. E a pessoa passa a saber disso. Então, cada pessoa que sai do Ateliê, sai sabendo um pouquinho mais sobre ela. E isso é revelador”, finaliza Marah Silva que, completando 19 anos no empreendedorismo de Moda, ainda se prepara para entregar com excelência o figurino de uma série no streaming.

REALIZAÇÕES E PREMIAÇÕES:

(2008); “Yabá, Mulheres Negras” (2020); “Para Meu Amigo Branco” (2023); “Cria” (2023); “Jorge para Sempre Verão” (2022); “Mãe Arrependida” (2023); “Relicário” (2010); “Reza” (2019); “Cosmogonia Africana” (2019); “Rebouças” (2022); “O Mesmo Sol” (2010); “Capiroto” (2023); “Lia e as Palavras” (2020); “Quijua” (2017); “Fé Menina” (2016); “A Mulher que Matou o Síndico” (2017); “Tereza” (2017); Reverso” – francês (2022); “Mar de Elas – Marielle Presente” (2018).

Com o filme “A Jornada”, Marah ganhou o prêmio de melhor figurino, no Festival de Cinema Tamoio, em 2021. E em 2021 desenvolveu todo figurino de “A Menina Akili e seu Tambor Falante, o Musical”, premiado como melhor espetáculo Infanto-Juvenil na 16ª edição do Prêmio APTR Teatro, em 2022, pela Associação dos Produtores de Teatro. Resultado de uma trajetória de garra, superação e determinação.

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