Apesar da rica história da teledramaturgia brasileira, demorou até que rostos negros tomassem lugar como protagonistas. Na verdade, demorou demais. Mesmo uma pioneira como Ruth de Souza, não gozou de papéis importantes na TV igual seus pares brancos. Algumas coisas têm mudado, sobretudo na maior rede de TV do país, a Globo, que recentemente colocou Sheron Menezzes para viver sua primeira protagonista em “Vai na Fé”, nova novela das 19h. Maria Gal, talentosa atriz de 47 anos, também entra na lista das atrizes pretas que conseguiram seu espaço na emissora carioca após muitos anos de labuta.

Escalada para “Amor Perfeito”, próxima novela das 18h, Maria Gal saiu do SBT após cinco anos de uma bem-sucedida passagem. “Eu iniciei o contrato com a Globo depois de cinco anos de SBT. Era um contrato que era para durar sete meses e virou tudo isso. Era uma personagem com família, com trajetória dramática. Foi uma escola pra mim e sou imensamente grata”, conta.

Em “Amor Perfeito”, Maria Gal viverá Neiva Batista,  amiga da protagonista interpretada por Camila Queiroz. A atriz abdicou das férias para agarrar uma oportunidade rara para mulheres negras:uma personagem que tem escopo familiar e uma história para contar dentro da trama. Gal demonstra alegria com o novo projeto, não só pela personagem que conquistou, mas por seus colegas de elenco. “É uma novela que tem um propósito em relação à diversidade. É 50% de elenco negro”, diz.

 Aos 47 anos fazendo uma personagem bacana em novela das 18h. É muito tarde! Olha quanto tempo com trabalhos pequenos, menores eu e tantas atrizes negras tivemos – Maria Gal

Imagem: Reprodução/Instagram

“A Neiva é mãe da Adélia e da Tânia, duas adolescentes com personalidades diferentes. Nossa trama é muito associada à família da protagonista, mas não posso falar muito, não. Ela é uma mulher elegante, inteligente e progressista. Ela sendo viúva e nova,demonstra não querer se relacionar amorosamente, mas no fundo ela quer um novo dengo”, conta Maria Gal, que continuará no ar em em ‘As Aventuras de Poliana’ (Netflix) e ‘Poliana Moça’, que em breve estará no catálogo do Amazon Prime Video.

Como exemplo de resiliência, adjetivo conferido forçadamente a tantos profissionais pretos, Maria Gal espera que a próxima geração enfrente menos obstáculos para ter o espaço que ela enfim conseguiu. “Pensei diversas vezes por ser negra, nordestina e mulher que migrou para o eixo Rio-São Paulo. Quase toda minha carreira fora da zona de conforto. Tirei leite de pedra, trabalhando como garçonete para me manter. A gente vive um outro momento no Brasil, mas é importante que a gente tenha resiliência e que pense também em se autoproduzir. Foi um dos caminhos que eu descobri e que está dando certo”, finaliza.