Pesquisa aponta que discriminação no mercado de trabalho contribui para a vulnerabilidade e limita as oportunidades de emprego da população LGBTQIAPN+ no Brasil  

por | março 15, 2024

É o que mostra a 1ª fase do Censo de Inclusão Produtiva, apresentada pelo Pacto Global da ONU – Rede Brasil, Nhaí e AlmapBBDO na sede de ONU, em evento em Nova York

O Pacto Global da ONU – Rede Brasil, a Nhaí – startup voltada à inovação com base na diversidade – e a agência AlmapBBDO apresentaram a primeira fase de um censo inédito sobre inclusão produtiva LGBTQIAPN+, que detalha o perfil de empregabilidade e empreendedorismo da comunidade no país. Os dados iniciais se concentram em entrevistas qualitativas, feitas pelo Datafolha em profundidade, com oito especialistas em temas que afetam a situação produtiva do indivíduo, como saúde, educação, política e economia. Nomes como Neon Cunha (Ativista/Casa Neon Cunha), Reinaldo Bulgarelli (Fórum Empresas de Direitos LGBTI+), Maite Schneider (Integra Diversidade/ Somos Diversidade/ Trans Empregos), Pri Bertucci (Diversity BBox Consultoria) e Priscila Siqueira (Vale PcD) analisaram os maiores obstáculos que o Brasil impõe para que a comunidade LGBTQIAPN+ consiga se inserir no mercado de trabalho ou empreender.

O anúncio do resultado da etapa inicial do censo foi feito por Raquel Virgínia, CEO da Nhaí, e Fernanda Tedde, COO da Almap, durante a programação promovida pelo Pacto Global, paralelamente à realização da 68ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW), principal fórum de negociação e monitoramento dos compromissos internacionais sobre direitos humanos das mulheres. Raquel ressaltou que, para discutir o mercado de trabalho na construção da carreira profissional da comunidade LGBTI+, é essencial reconhecer a influência de fatores diversos, como contexto familiar, condições de saúde, políticas vigentes, direito e legislação e acesso à educação.

“É fundamental que a gente entenda a situação atual da comunidade e as barreiras que as pessoas enfrentam para ter oportunidade no mercado de trabalho. É urgente que esses desafios ganhem visibilidade para que criemos ações e políticas específicas e direcionadas a essas dores. O censo vai descortinar dados desconhecidos até então e vai embasar as nossas conversas, com os setores público e privado, para direcionar e construir metas assertivas”, explica Raquel.

Questões como a não-aceitação da família, que gera expulsão de casa, evasão escolar e, consequentemente, uma formação curricular não formal, entre outras barreiras sociais, como falta de políticas públicas e de saúde, especialmente, para pessoas trans, de preparação dos ambientes de trabalho, e de garantia de aplicação de leis que protejam a comunidade LGBTQIAP+ no geral foram trazidas pelos especialistas. Ao mesmo tempo, o apoio familiar é destacado como um fator crucial que pode ajudar a compensar os desafios enfrentados por essa população no ambiente de trabalho.

O censo ainda traz uma análise das principais dificuldades encontradas no mercado de trabalho em três fases distintas: do processo seletivo, com barreiras invisíveis e visíveis, das dificuldades pós-contratação de convívio e carreira, além do caminho alternativo, o empreendedorismo, para os que não conseguem uma colocação. Na fase do processo seletivo, por exemplo, a falta de um histórico acadêmico tradicional é impeditiva para que pessoas LGBTI+ participem de processos seletivos para vagas de trabalho formal. Nesta mesma etapa, existe uma pressão para que indivíduos LGBTI+ sejam passáveis, ou seja, capazes de emular certa heteronormatividade ou cisnormalidade para serem aceitos ou contratados.

Embora as questões LGBTI+ tenham sido o centro das discussões, o censo destaca que mulheres enfrentam desafios similares no mercado de trabalho, independentemente de sua identidade ou expressão de gênero. Os depoimentos dos especialistas reforçam problemas como desigualdade salarial, menor presença feminina em cargos de liderança e o preconceito sobre a capacidade profissional das mulheres. Isso mostra também que cada membro da comunidade LGBTI+ vive experiências distintas, mas muitos encaram obstáculos semelhantes que tornam mais complexa a entrada e o avanço no mercado de trabalho. Um exemplo é a mulher lésbica, pobre e preta, que sofre preconceito de gênero, orientação sexual classe social e racial.

“Há várias interseccionalidades neste tema, o que o torna complexo, exigindo uma visão ampla para ações detalhadas sobre educação e mercado de trabalho. Conhecer essas particularidades e os diferentes traços de personalidade é necessário para preparar as mudanças necessárias na educação, no preparo profissional, nas práticas empresariais e na conscientização de todos sobre diversidade”, avalia Camila Valverde, COO do Pacto Global da ONU – Rede Brasil e diretora de Impacto.

Mas, os especialistas entrevistados também fizeram questão de ressaltar uma perspectiva de melhora neste cenário. Algumas ações, reflexo do trabalho de ativistas e instituições focadas em promover a integração da população LGBTQIAP+ à sociedade como um todo, já podem ser percebidas também no âmbito empresarial. O estudo traz ainda as principais reflexões e aponta soluções para cada um dos desafios apresentados, como destaca Fernanda Tedde, COO da AlmapBBDO.

“Este estudo é uma evolução de uma série de pesquisas feitas em parceria com a Nhaí no último ano, que trazia um panorama sobre os desafios da comunidade LGBTQIAP+ no país. Nosso foco agora é ampliar esse mapeamento nacionalmente e investigando diferentes marcadores sociais, para entender qual é o real status da inclusão produtiva dessa comunidade, a partir de uma análise que se aprofunde para transformar dados em plano de trabalho”, destaca Fernanda Tedde.

Na próxima fase, os temas levantados serão aprofundados e quantificados em nível nacional, por meio de entrevistas com pessoas LGBTQIAP+ de diferentes classes, recortes sociais e realidades, como indígenas, PcDs e moradores de áreas rurais, entre outras. A intenção é que um mapeamento preciso e completo dos problemas gere um plano de trabalho.

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