Se hoje Mayara Aguiar celebra a trajetória de 20 anos de carreira, 12 deles construídos dentro da TV Globo, além do reconhecimento como uma das diretoras pretas pioneiras na dramaturgia da emissora, no passado o sonho de trabalhar com audiovisual não fazia parte de seus planos. Aos 15 anos, Mayara ingressou no curso de teatro pela Sated, no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, por acaso, incentivada pelos pais para que ela conseguisse vencer a timidez.  A tentativa amenizou um pouco a introspectividade, garantiu a formação em Artes Cênicas anos depois e, mais que isso, proporcionou uma abertura de novas possibilidades para a jovem, cria da Zona Oeste carioca. Quando escolheu fazer a faculdade de Cinema, “mesmo sem ter tido nenhum artista na família” foi o momento em que ela se encontrou e decidiu que trabalhar por trás das câmeras, atuando nos bastidores, seria o seu objetivo profissional. “Gosto de pensar que estou também inaugurando isso na minha família”, conta a diretora de 37 anos.

Atualmente, Mayara brilha por trás das câmeras e faz parte do time de diretores de “Garota do Momento”, grande sucesso do horário das 18h da TV Globo, que entra na reta final de gravações, se firmando como uma das produções mais bem-sucedidas dos últimos tempos. Sucesso de público e de crítica, a obra tem um valor ainda mais especial para a diretora por contar com um elenco majoritariamente preto e em papeis de protagonismo. “Eu acho esse momento revolucionário porque ‘Garota do Momento’ é uma novela libertadora, importante e inesquecível. Um dos trabalhos mais significativos da minha carreira, que foi abraçado pelo público, e que vai ficar na memória de todo mundo”, vibra. Na dramaturgia, dirigiu a novela “Cara e Coragem”, finalista do Emmy Internacional de Melhor Telenovela em 2023, o remake de “Elas por Elas”, no ano seguinte.

Mal sabia ela que muitos anos antes, a Mayara, aluna da turma do projeto Amigos da Escola, que visitou Estúdios Globo no início dos anos 2000, pisaria pela primeira vez em um estúdio de gravação. Na época, um de seus professores do curso de interpretação para TV era o diretor Ricardo Waddington, que percebeu o encantamento da aluna e a aconselhou a investir nos estudos para trabalhar nos bastidores em vez de seguir a carreira de atriz. “Ele foi uma pessoa que me abriu o olhar para outras possibilidades dentro do audiovisual, da dramaturgia, e sinalizou na época que eu poderia construir uma carreira em outras áreas e não necessariamente como atriz. Aquilo foi libertador pra mim”, recorda.

Além de diretora, Mayara é roteirista, produtora e atriz. Ela começou sua trajetória no Sistema Globo de Rádio em 2012 como produtora e no ano seguinte, ingressou na TV Globo através de uma Oficina de Produção e assistência de estúdio onde trabalha há 12 anos.

Como assistente de estúdio, sua primeira função na TV Globo, trabalhou em novelas como “Em Família”, “Império” e “Babilônia”. O reconhecimento pelo bom desempenho veio logo em seguida com a promoção para o cargo de assistente de direção em 2018 foi quando ela integrou as equipes das novelas “Malhação – Vidas Brasileiras” e “Bom Sucesso”, além do especial “Falas Negras” com Lázaro Ramos.

Mayara se destacou como assistente de direção e rapidamente se tornou uma figura essencial no avanço de profissionais negros dentro da empresa tornando-se uma referência e inspiração para colegas que ingressaram na tevê nos anos seguintes. “Na época a gente não tinha referências de mulheres negras, muito pouco na assistência de direção e nenhuma, pelo menos dentro da dramaturgia que eu tenha visto enquanto diretora”, lembra.

Até que em 2020, durante a pandemia e na gestão de Monica Albuquerque como diretora de Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico, Mayara foi alçada ao posto de diretora se tornando uma das primeiras diretoras negras a fazer dramaturgia dentro da Rede Globo de televisão. “Eu fui, durante um período, talvez a única diretora negra na dramaturgia da TV Globo, e isso representava para mim não só alegria, mas uma responsabilidade, que eu acho que é a palavra que eu mais carrego”.

A estreia na direção foi com o especial “Superbonita 20 anos” com apresentação de Tais Araújo em 2021, no GNT, e dois anos depois assinou como diretora geral do docudrama “Resistência Negra”, estrelado por Larissa Luz e Djonga, disponível no Globoplay, provando mais uma vez sua versatilidade na direção de produtos com formatos tão distintos.