O projeto Pretas Vivas realizado pelo Instituto Casa Lilás vai atender com serviços gratuitos de saúde mental 40 trabalhadoras da saúde afetadas pelas violências de gênero, entre agentes de saúde, técnicas, enfermeiras, profissionais da limpeza e alimentação de hospitais públicos. Os atendimentos semanais com psicólogas e de arteterapia começam a partir do dia 9 de março no Museu Capixaba do Negro, no centro de Vitória, próximo aos hospitais e nos horários de contraturnos das profissionais da saúde. O projeto conta com o apoio da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e foi selecionado no Edital de Boas Práticas da Rede Abraço do Programa Estadual de Ações Integradas sobre Drogas.
Um estudo americano divulgado pela Revista de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, aponta que o uso de substâncias psicoativas pela vítima de violências de gênero está envolvido em até 92% dos episódios notificados. O projeto trabalhará as emoções afetadas pelas violências, empoderando mulheres diversas, incluindo negras e do grupo LGBTQIAPN+, melhorando a condição da saúde mental, promovendo ações visibilizatórias, prevenindo o abuso de álcool e uso de drogas.
A equipe de profissionais do Instituto Casa Lilás esteve conversando e tirando as dúvidas das 40 mulheres inscritas que serão atendidas pelo projeto, no último dia 14 de fevereiro no auditório do Sindisaúde, no centro de Vitória. Em agosto, outras 50 trabalhadoras da saúde serão capacitadas pelo instituto no enfrentamento às violências de gênero. Serão priorizadas as profissionais que estão atendendo na pandemia e que sofrem duplamente, com as violências de gênero e racial.
Segundo a pesquisa “A pandemia de Covid-19 e os profissionais de saúde pública: uma perspectiva de gênero e raça sobre a linha de frente”, que ouviu trabalhadores da saúde de todos os estados, e foi realizada pela Fiocruz, FGV e a Rede Covid-19 Humanidades, no que diz respeito à saúde mental durante a crise sanitária, a pandemia afeta de forma desproporcional as profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à Covid-19, e as disparidades de gênero e raça fazem parte deste contexto. Neste grupo, as mulheres pretas-negras e pardas trabalhadoras da saúde têm sido as mais afetadas, 83% das mulheres negras afirmaram ter a saúde mental impactada, esse número sobe para 89% quando fazem parte do grupo LGBTQIAPN+. O pouco apoio no cuidado da saúde mental oferecido também foi destacado na pesquisa, somente 29% contaram com alguma ajuda.
No Brasil, as mulheres negras estão frequentemente expostas a contextos de maior vulnerabilidades e adoecimento. A psicóloga do Instituto Casa Lilás Claudia Sales que atua com a psicologia de abordagem antirracista falou que “esses posicionamentos em projetos pela equidade de gênero e raça são urgentes, não precisamos de mais feminilidades morrendo para ter um engajamento contínuo na pauta da igualdade de gênero e raça, a sociedade clama por mudanças transformadoras, o machismo e o racismo são ações propositais que causam sofrimento psíquico, dores emocionais e físicas. As trabalhadoras da saúde em situação de violências estão em extremo desgaste mental, a situação na ponta de quem cuida mas não é cuidada, a saúde emocional destas mulheres é fundamental”.
O Instituto Casa Lilás possui sua sede no Barro Vermelho, em Vitória, e é uma organização da sociedade civil especializada, sem fins lucrativos, comprometida no enfrentamento às violências de gênero, incluindo na pauta mulheres negras, LGBTQIAPN+ e de comunidades tradicionais com suporte de projetos itinerantes que promovem saúde mental por meio de atendimentos psicológicos combinados a arteterapia. A equipe do Instituto Casa Lilás é formada por ativistas psicólogas, incluindo psicóloga negra para o atendimento de demandas de violências por racismo, educadores de arteterapia e pesquisadora que possuem ampla experiência em projetos com grupos de feminilidades em situação de violência e vulnerabilidade. No ano passado, o Instituto atendeu o grupo das trabalhadoras operárias da Chocolates Garoto com o projeto “Trilhando novos Rumos”, com atendimentos psicológicos na porta da fábrica, e os resultados do projeto serão apresentados em junho deste ano, no Congresso Internacional de Saúde da Rede Unidas, que acontece em Vitória.
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