Conexão Angola-Brasil: Dnasty pavimenta com o rap conexões culturais entre os dois países

por | agosto 7, 2023

Há muita coisa em comum culturalmente entre o continente africano e o Brasil, sobretudo em alguns países de língua lusófona como é Angola. E foi de lá, mais precisamente da capital Luanda, que os irmãos Hélio e Evan saíram para tentar novas oportunidades aqui no Brasil.  A dupla de rappers, conhecida como Dnasty, começou a trabalhar oficialmente como músicos do gênero em 2017, ganhando maior repercussão em 2019 fazendo reacts de sons da efervescente cena do rap brasileiro.

Paralelo às reações aos trabalhos de artistas como Froid e Djonga, o Dnasty mostrou que também tinha potencial para o sucesso com o viral “Fanta”, que até o momento conta com mais de 2 milhões de visualizações no Youtube. Mas é provável que o primeiro contato com a dupla para muita gente foi com a participação dos irmãos no clipe “Sk8 do Matheus”, do rapper Froid. “Ele falou ‘vou trazer vocês pra São Paulo e não sei o que’. E a gente era muito fã, escutava muito Um Barril de Rap, muito mesmo. Daí a gente não acreditou até chegar lá e cumprimentar ele, tá ligado? E começar a trocar ideia com o cara, mano. Aí foi muito foda, mano. Eu nunca vou esquecer assim, uma das primeiras vezes que eu tenho contato com alguém que eu admirava. Foi bem foda”, conta Evan.

Imagem: Divulgação

Evan e Hélio visitaram o Brasil pela primeira vez aos 7 e 11 anos de idade, ficando 2 anos por aqui e tendo contato com Marcelo D2 e Racionais, mas sobretudo o primeiro, que estava no auge. Voltaram para Angola, mas a semente estava plantada. Quando retornaram ao Brasil para estudar, abriram um canal no Youtube e viraram pesquisadores da cena. “E foi muito bom, foi o que deu, na verdade, oportunidade, né? Fez as pessoas conhecerem as nossas músicas também. Nosso foco principal sempre foi a música. O que realmente abriu as portas pra gente poder mostrar o nosso trabalho foi esses vídeos aí no YouTube”, declara Hélio.

A nossa mãe veio pra cá nessa primeira passagem de 2005. Ela estava fazendo a formação dela, fez especialização também  durante dois anos e meio. Aí a gente voltou pra lá, mas a gente criou meio que uma conexão já com o Brasil nesse tempo que ela veio, entendeu? Aí, por uma decisão dela mesma, ela já queria antes de qualquer coisa que quando a gente terminasse o ensino médio, viéssemos pra cá, porque Angola tem um limite pra onde você pode chegar, sabe? Aí, sempre foi da ideia dela a gente vir pra cá, ter mais oportunidades, conhecer mais coisas e vir procurar uma formação no Brasil. E no meio disso, além da gente estar fazendo a nossa formação, sempre fazíamos música. Aí, meio que a gente foi juntando as coisas- Evan

Hélio é formado em Engenharia de Petróleo e Evan cursa Marketing. É uma forma de ter alternativa à música e também seguir os conselhos da mãe de manter os estudos em foco. “Os pais angolanos são muito incisivos com a formação acadêmica dos filhos, entendeu?  E então, assim que eu terminei o ensino médio, foi uma conversa que eu tive com o meu pai, ‘Tá, o que que a gente vai fazer?’  Eu não me identificava sinceramente com nenhum outro curso, mas eu era muito bom em matérias que são do curso de engenharia e a gente analisando o mercado, a gente viu que o mercado do petróleo na época estava muito em alta assim, principalmente aqui no Brasil”, revela Hélio.

Recentemente o Dnasty lançou a faixa ‘Carioca e Luandense’ que, de forma divertida, fala um pouco sobre como os irmãos se sentem em terras brasileiras. A faixa resume um pouco como os irmãos angolanos querem se comunicar. Há um deboche, uma alegria, mas também uma narrativa sobre a realidade de como entendem suas vivências por aqui, as diferenças e similaridades culturais. “Eu tenho muito essa linha de pensamento quando eu vou compor. Muitas vezes ,quando eu já estou falando de algum assunto sério, eu busco não falar de um jeito que pese ainda mais, entendeu? Aí quando eu vou falar de um assunto mais leve, mais fútil, eu tento puxar uma parte séria daquilo, entendeu?”, explica Hélio com adesão do irmão: “No meu caso, tenho essa sensação de que a gente compõe muita coisa de freestyle, inclusive teve recentemente vários freestyles aí que viralizaram nosso, e a gente vai adotando também esse método de compor e ultimamente a gente trabalhou praticamente só dessa forma. Eu gosto porque acaba tornando a composição mais natural e também mais divertida, sabe?”.

Imagem: Instagram

A dupla conta que o público angolano tem dado cada vez mais atenção ao trabalho que eles têm feito. Com o single “Aulas e Cursos”, o Dnasty alcançou 21 milhões de views desde o ano passado, atingindo o público Brasil-Angola em cheio. “O público angolano é difícil, é exigente, tá ligado? Então, quando eu vi angolanos mandando mensagens, elogiando, a minha irmã falando que os amigos dela escutam, ela está lá em Angola, meu primo, enfim, eu fiquei muito surpreso, entendeu? E hoje, esse resultado de ‘Aulas e Cursos’ é o que nos fez cada vez mais entender, pô, o nosso povo está vendo a gente, entendeu?” comemoram os irmãos em uníssono.

Hélio e Evan estão focados em conceber um álbum totalmente produzido pelo irmão mais velho, também compositor de vários beats da parceria. Segundo eles, só falta decidir os conceitos visuais do projeto. “A gente está juntando as nossas experiências antigas e transformando em algo nosso, fazendo o nosso estilo. Então está sendo bem maneiro, acho que as pessoas vão poder esperar assim algo muito bom. Não faltou dedicação, eu acho que tanto eu quanto o Hélio estivemos no nosso melhor na gravação dessas músicas”, conclui Evan.

Agora é esperar que o abraço da cena e do público para o Dnasty abra portas para uma conexão cada vez mais forte entre nossos irmãos de idioma português.

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