“Esta não é uma história de amor. Esta é a história do amor”. Um retrato de ‘Malcolm & Marie’

por | setembro 1, 2023

“Esta não é uma história de amor. Esta é a história do amor”. Amores e paixões podem desembocar em terrorismo emocional, brigas homéricas, mas os conflitos não nascem de repente.

Tudo nas relações vem de um crescendo. Um dia por vez vamos morrendo e vamos matando. Podemos manter uma postura passiva agressiva, fingir que estamos por cima enquanto o coração pesa mais que uma mala de chumbo, ou podemos explodir, atacar de maneira feroz quem nos expôs seu íntimo.

 Todos, em algum momento, foram covardes em relação à vulnerabilidade alheia. Como animais a gente voa na jugular, resgata a ferida mais doída para atacar o inimigo, e o inimigo, muitas e muitas vezes, é a pessoa que amamos.  É  a aspereza das relações desgastadas.

“Malcolm & Marie” oferece um texto teatral, mais encenado e menos natural do que poderia ser, mas o recado é dado de forma eficiente, com um show potente de Zendaya (Homem-Aranha De Volta ao Lar). Quem já foi incapaz de se despir do ego para pedir desculpas simples e diretas vai se identificar com Malcolm (John David Washington). Quem está calejado pelo massacre do amor, vícios e mentiras, vai se ver em Marie.

Todos nós estamos em maior ou menor intensidade dentro do círculo amoroso em que ceder é menos desejável que conversar, em que esperar uma mega explosão numa chacina de ofensas é mais comum que deixar o diálogo refinar as relações.

 

 A fotografia do filme, dirigido por Sam Levinson (Euphoria), é pitoresca, como é o cenário da dor quando temos de dormir sozinhos após a partida.

  Estilhaços na sala, rumores não confirmados, egos inflados, lembranças tão boas, ocultadas pela raiva, rancor e depois o remorso orgulhoso alongando a agonia.

“Malcolm and Marie” poderia ser um filme mais poderoso se estivesse liberto das amarras da teatralidade, mas ainda assim é uma dose desejável e dolorosa do retrato das relações que o cinema pode oferecer.

É como muitas vezes as relações são: ásperas, com muito a dizer, mas tomadas por um “silêncio que precede o esporro”.

 

 

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