Decepcionante:’Meu Nome é Gal’ parece um recorte de série de TV e passa longe do que Gal Costa merecia

por | outubro 17, 2023

Gal Costa faleceu em novembro de 2022, com sua cinebiografia já em produção. Não se sabe o quanto sua morte afetou o resultado final, mas com certeza aumentou as expectativas em relação à produção, que tinha a missão difícil de passear pela vida e obra da artista que no momento de sua partida contava com mais de 50 anos de carreira.

Que pena. “Meu Nome é Gal” fica devendo, e muito, ao que se espera de uma Cinebiografia de uma artista tão grande. O longa é uma sequência de blocos contando recortes de passagens importantes que perdem pela pressa com que são tratados.

Sophie Charlotte, talentosa como sempre, canta muito bem, o que torna injustificável que em certos momentos a produção tenha optado pela dublagem. A atriz faz muito, mas sua Gal parece mais uma espectadora passiva do movimento tropicalista.

Rodrigo Lélis, Sophie Charlotte e Dandara Ferreira

Falando em Tropicália, os momentos mais interessantes do filme foram em torno da formação do movimento e de como surgiram certas canções emblemáticas. Rodrigo Lelis está um espetáculo como Caetano Veloso, em caracterização e atuação. O ator é a melhor coisa do filme e isso diz muito sobre a produção dirigida por Dandara Ferreira e Lo Politi.

A pesquisa sobre a vida da cantora parece ter sido rasa ou a intenção foi ser totalmente chapa branca?  Curioso porque as diretoras são as mesmas da docusérie ‘O Nome Dela é Gal’, bem mais coeso.  Claro, um documentário tende a ser menos floreado e ter mais escopo, mas não justifica a edição qualquer coisa do longa. A 1h30 de filme é no máximo OK e retrata uma juventude ávida por mudanças em plena ditadura militar, mas perde muito ao não explorar o impacto da discografia da cantora na época e as passagens pelos festivais de maneira detalhada.

A passagem de tempo é mais demarcada pelas mudanças de cabelo de Sophie Charlotte do que pela narrativa em si, o que é outro problema. Se nos apresentam uma garota tímida logo no começo, seria esperado ver como a cantora se tornou o furacão icônico que conhecemos, mas essa parte da narrativa é meio que abandonada em seguida. Os cortes são confusos, a montagem errática.

A ambientação é funcional ao mínimo, mas a pressa do filme e a obrigação de mostrar patrocinadores, não explora o que era a estética anos 60 e 7O de São Paulo. Parece que faltou recurso ou boa vontade.

Abandonada também são as questões sobre a sexualidade da cantora. É compreensível que os realizadores não quisessem polêmicas, mas então era melhor não ter abordado o tema do que trazer para depois largar completamente o drama que parecia se desenvolver.

É realmente uma pena que artistas como Tom Zé, Jards Macalé e Waly Salomão tenham tido papel tão secundário no retrato do filme. E nem é que se precise ser um expert em música brasileira para não gostar, se fosse sobre qualquer outro personagem, a impressão é que todo mundo ali era parte de um fã clube dedicado a idolatrar Gal Costa, mas o próprio não justifica a adoração, uma vez que não é construído motivos para isso.

Gilberto Gil é escanteado e Dan Ferreira nem mesmo usou o Black característico do cantor na época. Fora a ausência do sotaque baiano. Sotaque que também faz falta em outras figuras que aparecem aqui e ali. Será que não tinha atores e atrizes baianas para chamar?

“Meu Nome é Gal” é um filme decepcionante. Parece o rascunho de uma série feita  às pressas e de cinema por alguém que era mais fã de Caetano Veloso do que de Gal Costa.

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