Diretora de “A Mulher Rei” faz fortes declarações sobre a esnobada do Oscar para mulheres negras

por | fevereiro 10, 2023

Gina Prince-Bythewood, diretora de “A Mulher Rei“, filme estrelado por Viola Davis, comentou a completa esnobada que o filme recebeu nas indicações ao Oscar 2023. Ao The Hollywood Reporter, Bythewood lembrou que a Academia ignorou grandes produções liderados atrás ou à frente das câmeras por  mulheres negras. Além de ‘A Mulher Rei’,  produções como ‘Till – A Busca por Justiça’, de Chinonye Chukwu, estrelado por Danielle Deadwyler; e ‘Saint Omer’, de Alice Diop.

“Atualmente, sou produtora de um projeto, e os executivos foram inflexíveis para que o diretor que escolhêssemos fosse um diretor negro vencedor do Oscar. Embora isso pareça ótimo, quem seria? Nos 95 anos de história do Oscar, nenhum cineasta negro jamais ganhou o prêmio de melhor diretor. Nenhuma mulher negra jamais foi indicada”, apontou Bythewood.

A diretora conta que a exibição de “A Mulher Rei” na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles ) foi super bem recepcionada, com muitas perguntas dos alunos das escolas de cinema, mas que logo em seguida ao ir a um mercado, estava sendo seguida por um segurança. “Dentro de um período de meia hora, as pessoas me viam como uma artista e então, logo após, eu encarava uma percepção de mim que foi construída por décadas de discriminação e as imagens de nós que a mídia criou. Isso dói”, desabafou.

Front, from left: Lashana Lynch, Viola Davis and Sheila Atim in The Woman King.

Lashana Lynch, Viola Davis e Sheila Atim liderando as guerreiras Agojie

Na atual edição do Oscar, profissionais negros não entraram em nenhuma categoria principal e a mais sentida ausência foi a do filme de Gina. Ainda que o racismo da Academia seja conhecido, não diminuiu a frustração da diretora pelo não reconhecimento do longa no maior prêmio da indústria cinematográfica. “A Mulher Rei não apenas existe no mundo, mas é um sucesso no mundo. Para qualquer odiador que espera acender o gás e dizer que talvez não fôssemos bons o suficiente, você não pode contestar os fatos de nosso A + Cinemascore que apenas dois outros filmes alcançaram no ano passado, ou a pontuação de 94% no Rotten Tomatoes, ou o número das 10 principais listas, incluindo AFI e National Board of Review. Vamos ultrapassar US$ 100 milhões nas bilheterias globais, o que é inovador e histórico. As vendas em VOD e DVD são ótimas. Então, nosso filme rendeu dinheiro e claramente teve um impacto cultural, que é o que todos esperávamos”, aponta.

Em ‘A Mulher Rei ‘ e em ‘Till’, pode-se argumentar que os filmes estavam mais fortes em uma categoria que em outra. Não dá para negar as ótimas atuações e nem a direção poderosa que conduziu ambas as produções, mas absolutamente nenhum aspecto dos longas foi lembrado. É como se simplesmente não tivessem passado pelas mesas dos votantes.  É um reflexo da posição da Academia e do abismo consistente entre a excelência negra e o reconhecimento. E, infelizmente, isso não é apenas um problema em Hollywood, mas em todos os setores. Vou usar uma citação do Dr. King porque é muito apropriada, pois ele falou sobre a “mentira de nossa inferioridade aceita como verdade na sociedade que nos domina”, refletiu Gina.

Crítica: Till – A Busca por Justiça é a lembrança do horror do racismo |  Metrópoles

Danielle Deadwyler e Jaylin Webb em ‘Till – A Busca por Justiça’

O posicionamento público da cineasta é uma forma de combater mais uma declaração subtendida de resistência do Oscar em relação à mulheres negras. Seja com os trabalhos já citados do presente ou com histórico anterior, há uma base material histórica para as declarações de Gina Prince-Bythewood.  Ser essa voz ativa agora, nas palavras dela mesma, representa também “aquelas que ainda nem pisaram em um set”.

Gina contou das vezes em que ouviu pessoas dizerem que filmes com elencos negros não eram para todos e que as pessoas não se sentiriam representadas. Argumento frágil já que aparentemente todos se sentiram representados por um filme de um piloto de caça sessentão ou uma viagem psicodélica com um elenco oriental. “Nós, mulheres negras, não temos essa mesma graça. Portanto, a pergunta que precisamos fazer é: ‘Por que é tão difícil se relacionar com o trabalho de seus colegas negros?’. O que é essa incapacidade dos eleitores da Academia de ver as mulheres negras, sua humanidade e seu heroísmo como relacionáveis ​​a si mesmas?”, questionou.

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