“Império da Luz” esteve presente na última edição do Oscar concorrendo ao prêmio de Melhor Fotografia e, de fato, a fotografia de Roger Deakins é um mérito e tanto do longa dirigido por Sam Mendes (‘1917’).
No início dos anos 1980, na Inglaterra, Hilary (Olivia Colman) é uma gerente deprimida que trabalha no Cinema Empire. Ela é responsável por manter o lugar e a equipe nos eixos. Ao seu lado figuram pessoas como o patético e mal-humorado Sr. Ellis (Colin Firth), o dedicado projecionista Norman (Toby Jones) e os assistentes Neil (Tom Brooke) e Janine (Hannah Onslow).
A vida sem luz de Hilary se transforma quando o Cinema Empire contrata Stephen (Micheal Ward), um jovem negro que apresentará à personagem de Colman a face bonita da conexão humana, mas também feia e suja do racismo.

Micheal Ward e Olivia Colman em cena
A atriz Tanya Moodie, intérprete de Delia, mãe de Stephen, lembra que no começo dos anos 80, época em que se passa o filme, as tensões raciais na Inglaterra, afloradas pela liderança da Primeira Ministra Margareth Tatcher, deram vazão ao ódio de grupos intolerantes e que essa raiva pelas minorias modela como Stephen e Hilary, uma mulher branca solitária, vão se relacionar. “Tensão socioeconômica entre os brancos ingleses e os pretos da colônia vindos de outros países, ajudaram a reconstruir o país pós guerra e isso causou muita tensão, né? Porque teve uma falta de preparação, falta de diálogo para lidar com essa população que estava chegando e uma falta de entendimento sobre o que esse império significava”, analisa Moodie.
Nesse contexto histórico, quando essa população chega, há uma crise, porque embora eles fizessem parte do Império, eles eram colonizados, mas uma relação diferente porque não há lugar para eles – Tanya Moodie
Ao mínimo sinal de bem-estar, Hilary abandona a medicação psiquiátrica, o que será um dos pontos de tensão do filme. Nos anos 80, o debate sobre saúde mental ainda era carregado de preconceitos (ainda é), mas é na sensibilidade de quem se importa que a gerente encontrará abrigo.“Um outro personagem do filme é a doença mental. Para o público de hoje, especialmente os mais jovens, o termo “saúde mental”, é muito comum, mas na época não era. Hoje há maior entendimento, terapia e vários graus.O personagem da Olivia, por exemplo, tem esquizofrenia, que é uma doença muito séria que precisa de terapia com remédios.Eu não entendo muito, mas tenho amigos com transtorno bipolar e sei que para algumas pessoas funciona tratamentos de formas diferentes”, refleta Tanya.

Imagem: Reprodução
O enredo do filme acerta ao não se tornar mais uma carta de amor ao cinema, embora um cinema seja pano de fundo. Ao focar nas conexões humanas como foco do desenvolvimento narrativo e não na busca de salvação através da sétima arte, Sam Mendes foge do clichê já explorado de forma magistral por Scorsese (‘As Invenções de Hugo Cabret”) e Spielberg (“Os Fabelmans”).
Olivia Colman, sempre ótima, traz uma verdade dolorosa em sua interpretação e, quem sofre ou lida com alguém que sofre com transtornos psicológicos, se sentirá respeitosamente representado. Tanya Moodie comenta esse aspecto do filme: “A personagem da Olivia recebeu remédios e é quase como se tivesse uma pergunta no filme: o que acontece se uma pessoa que sofre esquizofrenia não toma os remédios, não tem o tratamento adequado? O que acontece com as pessoas ao redor deles e como afeta eles mesmos?”
“Império da Luz” também não mergulha em um estudo de época sobre racismo, até porque poucas coisas mudaram e acaba sendo outro acerto, já que contextualizar de forma profunda a política da época tiraria o que de mais delicado e competente há no filme: o desenvolvimento de amizades e busca de compreensão sobre si mesmo.
“Império da Luz” está disponível na StarPlus.
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