Confira entrevista exclusiva: Marcelo D2 lança “P O V O . D E . F É” e reflete jornada musical

por | janeiro 19, 2023

Era 2003 e Marcelo D2 entregava “À Procura da Batida Perfeita”, disco que foi crescendo gradativamente na aceitação do público e virou uma unanimidade de crítica. Os tempos eram outros, ainda se vendia CD, mas a migração para o MP3 era inevitável.  Hoje nada parece ameaçar o  lugar das plataformas de streaming. No entanto, vinte anos depois do emblemático álbum e muitas mudanças na forma de divulgar e distribuir músicas , D2 segue consistente na qualidade dos lançamentos e na habilidade discursiva. Ano passado foi aclamado junto com sua banda, a Planet Hemp, com o ótimo ‘Jardineiros’, que soa como uma pancada na profusão de sons e amanhã (20), o rapper volta ao seu sempre aguardado namoro com o samba, lançando o  single   “P O V O . D E . F É”, composto em parceria com o professor e historiador Luiz Antônio Simas.

O lançamento chega como chute inicial do projeto  “Marcelo D2 e um Punhado de Bamba”, que sobe também no dia 20 ao palco do Circo Voador (RJ).

Cria de uma cena surgida da música brasileira que não tinha preconceito em adicionar elementos de brasilidade na sonoridade distorcida do hardcore, D2 enxerga pouca diferença nos estilos que absorve. ” Não são tão distintos. Só aparentemente. Cresci nesse ambiente de samba em casa, punk rock foi um dos primeiros movimentos musicais que me impactou pela rebeldia. A ideia de misturar isso, sou da geração 90, a ideia de misturar esses ritmos é muito natural. Cresci com isso na minha visão, né, cara? Era isso que a gente fazia nos anos 90, eu, Chico Science e Nação Zumbi, Fred 04, os Raimundos. A ideia sempre era de pegar algum ritmo brasileiro e transformar isso. Era uma ideia mais clara do que o samba já vinha fazendo sempre. Tinha o samba com maxixe, por exemplo. Acho que crescer nesse ambiente foi importante. Eu ia sábado no show de punk rock e domingo numa feijoada com samba”, relata.

Subindo ao palco com o novo show e onze músicos, o carioca de São Cristóvão, nascido Marcelo Maldonado Peixoto, não poderia estrear a nova fase da carreira solo e essa grande roda de samba em outra cidade que não o Rio de Janeiro. “Eu amo demais essa cidade. Já tentei morar em outro lugar mas é impossível. Sou um cara que cresceu na Zona Norte, Zona Oeste do Rio de Janeiro, servi o exército na Zona Sul. Acho o Rio de Janeiro uma cidade tão complexa e tão interessante, assim, essa coisa fervilhante da cultura do Rio de Janeiro. Sei lá, está no meu sangue, né, cara”, conta sem ignorar as contradições de uma cidade tão complexa que considera um pouco como o retrato do Brasil.

Foto: Yasmin Nascimento

P O V O . D E . F É” abre caminho para o próximo trabalho de D2, o álbum  “IBORU” que, a julgar pela carta de apresentação, é um convite para a união e a mudança após uma fase dramática para o povo brasileiro. “Se lutar contra a covardia/ Só chegar/ Se há luz, esperança e axé/ Só chegar”, versa o rapper.  “A gente resistiu esses quatro anos com bravura mesmo. É mais uma vontade de que a gente tenha um futuro um pouco mais calmo, né? A ideia de se agarrar a fé, não só na religião, mas fé no amor, no nosso povo,fé na história. Essa porta que se abriu na minha cabeça…a consciência está sempre em expansão”, reflete enquanto corre para deixar o show pronto na companhia de seu assessor.

O novo disco ainda não tem data de lançamento, mas é certo que o mergulho no samba iniciado há mais de 20 anos ganhará contornos interessantes. Além de Luiz Simas, D2 tem buscado inspiração na obra de Clementina de Jesus, assim unindo o que é ancestral e contemporâneo na mesma batida e cadência no que define como Afro Samba Digital. “Acho que é uma roda de samba na frente de um paredão de caixa de som. A minha ideia de que a música eletrônica, assim como rap e funk, se encontrem com esse samba de terreiro. Acho que essa coisa que a gente tem é tão forte na nossa cultura, que é o uso da tecnologia, e digo do tambor à bateria eletrônica”, explica. 

Mais do que “modernizar o passado”, D2 continua costurando referências para que sua música seja cada vez mais anacrônica. “É isso, ancestralidade e futuro. Ir buscar no passado o futuro e olhar para o futuro sem esquecer o passado”, finaliza.

SERVIÇO:

Marcelo D2 e Um Punhado de Bamba no Circo Voador

Data: Sexta, 20 de Janeiro

Local: Circo Voador – Arcos da Lapa s/n

Abertura dos Portões: 22h
Participações: Tássia Reis e Luiz Antonio Simas

Show de Abertura: Sain

Ingressos: R$ 80,00
Vendas site Eventim e bilheteria do Circo Voador

Texto por: Aquiles Marchel Argolo

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