Espetáculo técnico com narrativa fascinante, ‘Oppenheimer’ é um estudo de personagem maduro feito para ver na tela grande

por | julho 25, 2023

Christopher Nolan é o tipo de diretor celebrado e odiado quase na mesma intensidade. De trabalhos aclamados como “Batman – O Cavaleiro das Trevas” e “Amnésia” aos contestados como “Tenet”, o cineasta não deixa de mover paixões a cada novo lançamento. Desta vez, em “Oppenheimer”, Nolan se debruça sobre parte da história do físico J. Robert Oppenheimer, cientista brilhante que trabalha com uma equipe durante o Projeto Manhattan, levando ao desenvolvimento da bomba atômica, responsável por matar centenas de milhares em Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial.

Baseado no livro Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano, o longa surge como um dos trabalhos mais maduros de Nolan, ainda que em alguns momentos apareçam aqui e ali certos maneirismos característicos do diretor, mas para um cineasta autoral da estirpe de Nolan,é difícil se desprender de algumas marcas registradas.

A narrativa segue sempre em dois tempos distintos, com a fotografia em preto e branco mostrando ao público o embate entre Oppenheimer e sua defesa contra o Senador Lewis Strauss, antigo aliado que agora lidera uma campanha de difamação do cientista junto ao governo estadunidense. Nas sequências em cores é destinada a narrativa da criação da Bomba e seus testes e os principais dilemas morais sofridos por Oppenheimer.

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Nolan (braço estendido) e Cillian Murphy (de chapéu) no set de ‘Oppenheimer’

 “Agora me tornei a Morte, a destruidora de mundos” é uma citação conhecida do Bhagavad-Gita, e usada pelo físico retratado como um resumo do que tinha criado ao testemunhar o poder destruição de sua bomba. “Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria ficou em silêncio”, teria dito ele sobre os testes. Sobre este aspecto amargurado do biografado, Cillian Murphy está muito bem, retratando a apatia e a tristeza confusa de Robert Oppenheimer. Não que o filme tente dar verniz de vítima ao cientista, mas a direção acerta ao humanizá-lo, mostrando como a soberba e a vaidade podem se tornar vazias por conta de acontecimentos chave na vida.

Escolhendo focar a lente no conflito público de Oppenheimer e em sua relação com outros cientistas famosos, o filme acaba deixando de lado as relações íntimas, sobretudo amorosas do personagem. A ótima Florence Pugh tem pouco a fazer interpretando Jean Tatlock, mulher que na vida real foi responsável por inserir o físico no mundo da política, mas que no longa é reduzida à uma amante potencialmente suicida. Quem acaba roubando todas as cenas que aparece com a ferocidade de quem quer um Oscar é Emily Blunt encarnando Kitty Oppenheimer, a esposa resiliente, traída e inteligente. Apesar do pouco tempo em tela, Blunt é uma das presenças mais marcantes junto com o ótimo Downey Jr.

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Um dos alardes feitos antes do lançamento de “Oppenheimer” era sobre o formato ideal para assistir ao filme, filmado pelo diretor  em Imax 70 milímetros. Não foi exagero. A mixagem de som do longa é espetacular, talvez a melhor em décadas, o que pode render indicações neste quesito no próximo Oscar. É possível ouvir cada movimento em tela, com destaque para as cenas dos testes atômicos onde o trabalho de som aumenta potencialmente a tensão. Nem James Cameron e seu Avatar conseguiram resultado assim.

Seria muito fácil, nas mãos de um diretor menor, esta cinebiografia virar uma propaganda bélica do exército ou de armas atômicas ou uma tentativa de limpar a barra do “pai da bomba”. Felizmente não é isto que acontece e tão pouco é explorado o sangue nas trincheiras de batalha. Quer dizer, a batalha aqui é judicial e política, com parte das ações de membros do governo e dos militares sendo expostas como paranóicas, injustificadas e guiadas por motivos egoístas, interesseiros, alimentadas por um forte senso anticomunista característico do início da Guerra Fria.

“Oppenheimer” é um espetáculo sonoro, visual e tem uma narrativa fascinante. As 3 horas podem pesar para uma parte do público. O filme não tem pressa de contar sua história e pode ser um pontapé para muita gente buscar entender que sempre estamos há um botão do fim do mundo.

 

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