“Os Rejeitados” é uma dramédia apaixonante para assistir com sorriso no rosto e lágrimas nos olhos

por | janeiro 12, 2024

Se sentir deslocado é um sentimento universal. Todos nós, em algum momento da vida, precisamos lidar com a sensação de não pertencer a algum lugar ou ao próprio mundo em si. “A dramédia “Os Rejeitados”  (The Holdovers) é um pouco sobre como pessoas que se sentem desconfortáveis na própria pele, seja por um fator intrínseco à sua existência ou por enfrentarem tragédias pessoais, conseguem se entender, ainda que desajeitadamente

O longa, dirigido por Alexander Payne (“Sideways”, “Os Descendentes”, e “Nebraska”), conta uma história divertida e trágica passada na década de 1970. O professor dedicado,solitário e ranzinza, Paul Hunham (Paul Giamatti), precisa passar as férias com alguns dos estudantes reprovados na Barton Academy, uma escola de alto padrão, e a situação inescapável e desconfortável piora quando todos os alunos escapam do castigo e sobra apenas Angus Tully (Dominic Sessa), que junto com a gerente da cantina, Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), uma mãe de luto após perder o filho na Guerra do Vietnã, formam um grupo de esquecidos pelo mundo.

Os primeiros minutos de filme nos enganam ao trazer ecos de “Sociedade dos Poetas Mortos”, mas a impressão logo é desfeita quando notamos que o professor Hunham é detestado por todos os alunos e não faz nenhum esforço para mudar o quadro.

 

Paul Giamatti está sensacional como o desajeitado e, quase sempre alcoolizado, educador. A ausência de tato social do personagem não é caricata e o ator desenvolve bem a tarefa de deixar transparecer sensibilidade num homem que se esconde quase o tempo inteiro atrás de um escudo intelectual cheio de informações que não interessam aos outros. Merecidamente, ele foi o vencedor do Globo de Ouro deste ano na categoria de Melhor Ator em Comédia ou Musical.

Da’Vine Joy  também foi premiada no Globo de Ouro por seu trabalho neste filme. Ela levou o troféu como Melhor Atriz Coadjuvante em Cinema. Sua Mary Lamb é uma figura imponente, calejada pela perda do marido e, mais recentemente, destruída pela perda do filho. É doloroso ver aquela mulher negra tendo que se aguentar firme para não desabar, mas quando desaba, é impossível não cair junto com ela. E mesmo assim, os melhores momentos de humor, dignos de arrancar risadas sinceras, envolvem a personagem e seu olhar expressivo, que é mais efetivo que qualquer texto.

Dominic Sessa não faz feio e se sai bem sendo a liga que obriga os adultos do filme a cumprirem responsabilidade diante de suas irresponsabilidades. Sua impulsividade é justificada, também por um luto e pelo abandono e, sem pressa, o longa constrói o amadurecimento de seu personagem de forma satisfatória.

Serve para acentuar a melancolia do trio, o Natal, a neve, a virada de ano. O que para grande parte das pessoas é sinal de recomeço, para os isolados é o reforço de uma solidão que parece irremediável.

Felizmente, “Os Rejeitados” foge de revitimizar seus protagonistas, conferindo-lhes objetivos e motivações que os levam para a frente, ainda que contra todas as atuais perspectivas. Embora o filme trate de luto, faça comentários sobre diferença de classe e trace um panorama delicado sobre abandono, também traz esperança em dias melhores e novas possibilidades.

A relação disfuncional de Tully, Lamb e Hunham é deliciosamente cativante e engraçada. O diretor acerta ao conseguir fazer dos três personagens pessoas identificáveis e amáveis, longe de perfeições ou vilanismos. São apenas eles e suas circunstâncias.

Algumas pessoas podem sentir que a duração do filme (2h 14min) seja excessiva para uma comédia, mas é tão gostoso acompanhar, que o resultado passa longe de ser maçante.

“Os Rejeitados” é uma dramédia apaixonante e reconfortante. Filme para assistir com sorriso no rosto e lágrimas nos olhos.

Estreou dia 11 de janeiro nos cinemas brasileiros

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