A impressão ao terminar de assistir ‘Aquaman – O Reino Perdido ‘ e até algumas horas depois, após baixar a adrenalina de qualquer sessão é “olha, que filme divertido”. James Wan não brinca em serviço. Não importa se está dirigindo o produto de universo cinematográfico semi-morto, o diretor constrói com carinho mais um pedaço do mundo do herói subaquático, desenvolvendo suas relações pessoais, dúvidas, habilidades de combate e ainda consegue contornar a limitação gritante de atuação de Jason Momoa.
O ‘Reino Perdido’ mostra Arthur (Momoa) lutando contra piratas enquanto cuida do filho recém-nascido ao lado de Mera (Amber Heard) e exerce a tarefa de governar Atlântida, cujo Conselho da nação não o vê com bons olhos. A situação fica mais apertada quando para derrotar o vingativo Arraia Negra, Aquaman precisa se aliar a Orm (Patrick Wilson).
Patrick Wilson empresta muita alma ao filme. Seu Mestre dos Oceanos é o melhor personagem do longa e rouba absolutamente todas as cenas em que participa. É uma pena se não pudermos ver mais deste personagem.
Atlântida não é tão explorada como no primeiro filme, mas o pouco que vemos é satisfatório em termos de matar curiosidade sobre mais dos tipos de criaturas e desenvolvimento. Os efeitos especiais estão ótimos e existem para servir ao roteiro e não como atrativo principal, embora seja complicado afirmar isso em um filme que foi filmado quase todo em tela verde. É impressionante, tanto quanto no primeiro filme, o balanço de cabelos, tentáculos e caudas embaixo da água.
A trama girando em torno de terrorismo ambiental funciona porque não é panfletário e caricatural. Temas como o aquecimento global e o conflito dos Atlantis em se abrir ou não ao mundo da superfície estão lá, mas não tomam conta em diálogos arrastados desnecessários. Wan sabe o que quer e o que o público espera.
As cenas de ação são ótimas, os cortes precisos e (graças aos deuses do cinema) nada de slow motion sem contexto.
A Mera de Amber Head tem cenas de destaque em batalha, mas senti falta do uso da variedade de seus poderes. Mas HQs ela pode solidificar armas usando a água para transformar em gelo e também é uma boa guerreira mano a mano. Aqui, resumem à manipulação das correntes marítimas, o que é uma pena.
Outra falha do filme com Amber é mostrar a construção paternal de Artur com seu filho, mas negligenciar o desenvolvimento de Mera e sua maternidade. Fora do campo de batalha, ela é mais coadjuvante até que o pai de Aquaman.
Bom, um filme de super-herói não funciona sem um bom antagonista, e se o Arraia Negra de Ayhya Abdull Mateen II foi subaproveitado no primeiro filme, em “O Reino Perdido” ele entrega motivações plausíveis e Mateen ganha tempo de tela para mostrar o nome ator que é. Oferecendo ameaça real ao protagonista e suas alianças, o vilão é melhor que maior parte dos apresentados nos filmes recentes do gênero. Inclusive, o roteiro poderia ter optado em não acrescentar uma segunda ameaça como recurso para explicar alguns conceitos, deixaria o Arraia Negra ainda mais ameaçador e acaba repetindo o clichê do vilão bucha para outro chefão maior.
Um destaque para o Doutor Shin, interpretado pelo sempre carismático Randall Park (‘A Entrevista’ e ‘Wandavision’). Ele funciona bem como a parte humana de atitude dúbia que a gente se identifica e torce a favor.
Em busca de conseguir dinamismo em meio ás suas 2h de duração, O Reino Perdido pisa no acelerador após a primeira meia hora e abandona mais da metade dos personagens apenas com frases de efeito e ignora as consequências dos ataques feitos pelos inimigos à nação atlanti.
“Aquaman – O Reino Sombrio” é um programão e se as previsões negativas de bilheteria se concretizarem, será uma pena. É uma daquelas farofas caprichadas e claramente feitas com muita boa vontade por realizadores e elenco. Esquecível? Sim. Mas satisfatória.
PS: O 3D é dispensável, mas ver em IMAX é recomendável
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