A criação mais popular de Maurício de Sousa ganhou dois ótimos live-action sob a direção de Daniel Rezende: “Turma da Mônica: Laços” (2019) e “Turma da Mônica: Lições” (2021). Baseadas nas HQs homônimas, os dois filmes conseguiram encantar público e crítica com aventuras ágeis e emocionantes, sem deixar o humor característico da turminha de lado.
Em “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo”, acompanhamos os personagens adolescentes, iniciando no ensino médio. O filme não se passa no mesmo universo dos anteriores e o elenco foi totalmente reformulado. Mônica (Sophia Valverde), Cebola (Xande Valois), Cascão (Theo Salomão), Magali (Bianca Paiva), Milena (Carol Roberto) e outros membros da turma descobrem que o museu do bairro do Limoeiro, coordenado pelo professor Licurgo (Mateus Solano), também diretor da escola vai ser vendido. Enquanto tentam impedir a venda do lugar, os adolescentes terão de lidar com acontecimentos misteriosos que envolvem magia e criaturas de outro mundo.
O elenco inteiro funciona bem e é carismático, mas pouco tem a fazer com a direção desleixada de Mauricio Eça (‘A Menina que Matou os Pais’). O diretor foi incapaz de conferir qualquer suspense a um filme que tem em seu título a palavra “medo”. Nem na parte da investigação e nem no ato final, onde os protagonistas confrontam a ameaça principal, há qualquer inspiração para provocar tensão, ficando a cargo dos atores tentar transmitir alguma emoção sobre os fatos que se desenrolam, e eles tentam, mas o roteiro e a montagem pouco ajudam o trabalho de Valverde e cia.
Talvez seja um pouco ingrato comparar um montador super talentoso como Daniel Rezende com um profissional protocolar como Eça, mas é difícil não colocar lado a lado o trabalho dos dois à frente da Turma da Mônica nos live-action. “Lições” e “Laços” parecem ter sido produzidos com capricho cuidadoso, enquanto “Reflexos do Medo” flerta em alguns momentos com teatro escolar.
Não dá para saber se o diretor alterou em algum sentido o roteiro, mas a história escrita por Sabrina Garcia, Rodrigo Goulart e Regina Negrini toma rumos ilógicos e que não ajudam a desenvolver os personagens. Os gêneros aos quais o filme se compromete nunca são abraçados totalmente, deixando a fantasia, o terror e o humor apenas como indícios.
Alguns exemplos do roteiro problemático é a incapacidade de desenvolver os protagonistas a ponto de nos importarmos com eles, elemento fundamental em obras que envolvem terror . Sabemos que Milena é jornalista e gosta de ciência, a Mônica tem problemas com irritação e Magali gosta de cozinhar, mas isso é jogado, contando com conhecimento prévio do público para montar a personalidade dos personagens, mas a tarefa do cinema é funcionar como mídia independente.
Os efeitos visuais lembram os usados na TV aberta em novelas da Globo dos anos 2000 e em uma temporada em que “Godzilla – Minus One” , feito com apenas US$ 15 milhões, não é justificável que cenas básicas emulando metal líquido lembrem os piores momentos de Bambuluá
Sophia Valverde está funcional como Mônica, assim como Valois encarnando o Cebola. Do quinteto principal, Magali e Cascão têm o melhor desempenho e Carol Roberto ganha no carisma já que dão pouco para sua Milena fazer no filme.
As passagens de autoajuda são excessivas e nem os atores veteranos como Mateus Solano dão uma refrescada no longa. Pelo contrário, também acabam prejudicando o filme e nos faz sentir saudade das versões anteriores.
O final aberto mostra que há confiança para uma longa série de filmes, mas a primeira amostra mostrou pouco fôlego. “Turma da Mônica – Reflexos do Medo” diverte muito pouco e desperdiça o bom elenco em um roteiro apático e direção em nenhum brilho.
Há elementos para melhorar e muito a história de Turma da Mônica Jovem, mas talvez sob outra direção.
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