Quatro ícones da cultura negra se encontram, como grandes amigos, para uma noite de camaradagem e, (por que não?) discussões acaloradas sobre lutar pelos direitos dos negros nos Estados Unidos dos anos 60, o papel do entretenimento e da religião nesta guerra.

Essa é a premissa de “Uma Noite Em Miami”, dirigido por Regina King, baseado na peça de teatro de mesmo nome escrita por Kemp Powers, codiretor de ‘Soul’.

Cassius Clay/Muhammad Ali (Eli Goree), Malcolm X (Kingsley Ben-Adir), Sam Cooke (Leslie Odom Jr.) e Jim Brown (Aldis Hodge), representam de forma competente figuras tão mistificadas, embora seja muito difícil ver um ator encarnar Malcolm X sem lembrar da antológica atuação de Denzel Washington no filme de Spike Lee ou do próprio Malcolm, que tinha uma personalidade forte e uma presença que permeava todos os lugares onde chegava, deixando a tarefa de Kingsley Ben Adir inglória.

Imagem: Reprodução

Este foi foi o primeiro longa dirigido por Regina King, atriz que ficou conhecida por “Se a Rua Beale Falasse” e “Watchmen”. Apesar de ter que lidar com texto teatral, King preferiu não explorar momentos que poderiam dar mais calor às cenas de embate entre as figuras das lendas em tela e confiou na força do roteiro, o que não é um erro, mas fica o gosto do que poderia ter sido caso houvesse mais visceralidade, principalmente no debate sobre o papel do entretenimento, travado entre Sam Cooke e Malcolm X.

Não há gordura aqui. Nada sobra, quase tudo de substancial que poderia ser conversado,caso esse encontrasse tivesse acontecido, aparece aqui, mas na vida real, Sam Cooke estava com muita gana de mudar a cara do entretenimento norte-americano e estava a caminho de ser um dos maiores empresários da música do país quando foi assassinado. Discussões em torno da guinada de Cooke enriqueceriam mais o longa.

Basta apenas um negro ser o melhor dentro do seu campo de atuação ou ele precisa direcionar um discurso direto para as massas? Ser mais bem sucedido que os brancos faz com que nos olhem como iguais? São questões debatidas de forma belíssima dentro do longa, de forma leve, apesar da angústia delicadamente expressada pelo Malcolm X de Ben Adir, sabendo que tem um alvo nas costas por estar largando uma visão menos radicalizada da militância negra.

“Uma Noite Em Miami” é interessante, contido, conta com atuações competentes e uma direção funcional.

Disponível no Prime Video