A tarefa do diretor Paul King (‘Paddington’) era oferecer uma nova reimaginação do icônico personagem Willy Wonka, protagonista do livro A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl. Diferente das duas adaptações anteriores, uma estrelada por Gene Wilder em 1971 e outra por Johnny Depp, “Wonka” traz em seu principal retratado contornos mais afáveis e menos obscuros. Timothée Chalamet aparece surpreendentemente carismático em cena, e se sua voz não é um espanto de virtude, ao menos segura bem as canções do longa que sim, é um musical, embora a promoção do filme tenha escondido este fato.
O filme é uma prequência não declarada do longa de 1971, acompanhando um jovem e sonhador Willy Wonka em busca de compartilhar com o mundo sua criatividade mágica em conceber os chocolates mais deliciosos do planeta enquanto enfrenta uma máfia de chocolateiros gananciosos e dois donos de uma espelunca com o caráter duvidoso.
A força de ‘Wonka’ não reside na imaginação fantástica que Tim Burton já tinha oferecido e nem na atuação ambígua de Wilder, mas na quentura de um mundo que se equilibra entre o mágico e o real, com personagens cativantes mesmo quando possuem moral duvidosa.
Referências aos filmes anteriores estão por lá, sobretudo ao mais antigo, mas a produção se sustenta por si só, sem precisar de revisitação nostálgica para ser entendido. O primeiro contato de Willy Wonka com os Oompa Loompas é mostrado de forma hilária, com o principal deles sendo estrelado pelo galã em desconstrução de sua imagem, Hugh Grant.
É agradável ver Wonka como alguém sonhador e não tão cínico como em suas versões anteriores. O humor autoconsciente, a gentileza quase ingênua do protagonista e a bem-vinda aparição da co-protagonista Noodle (Calah Lane) fazem desta obra um doce tão mágico quanto os chocolates de Willy. Inclusive, é interessante como Noodle e Wonka entrelaçam seus arcos dramáticos, uma vez que são figuras esperançosas que se encontram enquanto tentam sobreviver cercados por a animosidade constante dos acontecimentos e das pessoas ao redor.
Ah, e como é bom ver Olivia Colman como Sra. Scrubbit. Uma megera deplorável que junto ao seu marido, interpretado pelo também muito bom Tom Davis, fazem um inferno na vida dos protagonistas.
Paterson Joseph empresta uma vilania carismática e esperta como Arthur Slugworth, o líder do cartel de chocolateiros rivais de Willy Wonka. Graças à presença de um antagonista de porte, os feitos na jornada do herói são valorizados, indo mais um ponto de crédito ao diretor Paul King pela excelente condução do elenco.
“Wonka” é despretensioso, colorido e mágico. Suas músicas não são exatamente memoráveis, mas funcionam como fio narrativo da magia deste mundo. Gostoso de saborear como devem ser os doces feitos por Willy Wonka.
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